Antônio
nasceu chorando um choro baixinho. Olhou para mim e seu pai e ficou em um suave
murmúrio que revelava o pouco que compreendia da maior transformação pela qual
passaria em sua vida. Do ventre para a luz do dia. Eram duas e vinte e sete da
tarde.
Quando
em minha barriga, tinha seus horários de agitação maior, mas pelo que me lembro
mexia fora desses momentos também. Sempre muito educado, respondia de pronto
aos meus chamados, no que hoje eu reconheço como aquele sorriso gostoso que ele
lança para mim quando nossos olhares se encontram.
Sua
chegada foi tão intensa que eu não sou capaz de lembrar como foi nossa primeira
madrugada. Após um semestre de trabalho intenso, noites mal dormidas porque
nenhuma posição fazia meu corpo descansar e mais de vinte horas entre o início
do trabalho de parto e sua fase ativa, eu estava esgotada. E não fazia a menor
ideia do que me esperava logo ali.
Demos
sorte do alojamento estar vazio e seu pai dormiu na cama ao lado da minha.
Antônio dormiu enroladinho na manta, grudado em mim. Lembro que na segunda
noite eu e seu pai comentamos como parecia um bebê tranquilo. Depois, numa
autorreflexão ainda em tempo, pensamos ser melhor não cantar vitória antes da
hora.
Viemos
para casa e sua primeira noite já foi agitada. Era meu aniversário e as duas
avós planejaram um bolo para mim, e de repente umas vinte pessoas enchiam o
apartamento. Ainda atordoada do parto, eu fiquei a maior parte do tempo em seu
quarto com você e as pessoas entravam aos poucos para te ver.
Era
uma quinta-feira. Seu pai ficaria conosco de licença somente até domingo, mas
eu ainda não havia pensado nas implicações disso. Eu estava completamente
aérea, algumas coisas eu retive, outras não sou capaz de narrar.
Mas
me lembro muito bem que nesses poucos dias que o tivemos o tempo todo conosco,
foi um Deus nos acuda. Antônio chorava muito. Logo nos primeiros dias
demonstrou ser dono de seus desejos e lutar por eles com afinco. O tal rolinho
com a manta e o “shhh” em seu ouvido se mostraram totalmente inúteis. Aquele
vídeo do americano fazendo mágica com vários bebês parecia efeitos especiais
criados em Hollywood.
Ali
começava uma saga que até agora, quando Antônio completa cinco meses de uma
deliciosa existência, não teve fim.
Antônio
até que dorme. Não chora muito mais. É uma doçura de criança. Fica de bom humor
a maior parte do tempo, ri para todos, raramente estranha alguém. No entanto,
acorda, em média, sete vezes por noite.
Há
exatos cinco meses eu não sei o que é dormir mais de três horas seguidas. E
três horas deve ter acontecido no máximo duas, três vezes. O padrão são duas,
estourando duas horas e meia. Na maioria, de uma hora e meia em uma hora e
meia.
Quando
em minha barriga eu dizia que Antônio dormiria no berço desde o início. Eu
tinha receio dele se tornar uma criança dependente de nossa cama.
Antes
da concepção e durante a gravidez nós fazemos inúmeras afirmações peremptórias
que cairão por terra em frações de segundo. Não adianta fingir humildade. Todas
as mulheres fazem isso.
Perto
de seu nascimento eu já havia desistido da ideia. Para mim seria absolutamente
impossível ficar longe do Antônio. Na primeira noite eu tentei ajeitar seu
carrinho para ele dormir ao meu lado, no entanto, compramos um carrinho de
passeio que eu odiei por muito tempo, pois é muito desconfortável para
recém-nascidos. Hoje eu o adoro.
O
carrinho não funcionou, então eu fiz uma barricada em nossa cama e você dormiu
ao nosso lado. Dormiu é eufemismo. Você acordava a cada trinta minutos.
Quarenta. Cinquenta, quando muito. Mamava durante horas.
Entrei
para um grupo de mães no celular e ali fiz amizades. Varava a madrugada
conversando com a mãe acordada da vez. Eu estava presente em todas as
conversas. Aprendi a ver a noite passar até que relativamente rápido.
Dez
dias depois eu lembrei que tínhamos um berço portátil (cabeça de mãe recente
não funciona. Em privação de sono então, nem se fala). Montei ao lado de nossa
cama e tive a ilusão de ter se iniciado nova etapa.
Ter
um bebê que não dorme bem te coloca numa posição muito peculiar diante da
sociedade. Há diversas parcelas e todas elas têm suas dicas, julgamentos e
gradações de percepção de sua situação.
Eu
descobri que mães disputam qual filho dorme melhor. Aqueles que dormem a noite
toda recebem glórias e invejas brancas. Aqueles como Antônio, chega uma hora,
recebem olhares de comiseração tal qual aquela figura no Vigilantes do Peso que
durante a pesagem semanal perdeu somente 100 gramas.
Fiquei
totalmente obcecada em ensiná-lo a dormir. O livro “Soluções para noites sem
choro” eu já li duas vezes. Há ali algumas palavras de alento, tais como a
reflexão da importância do sono REM para os bebês no que tange ao
desenvolvimento cerebral. Dizem que bebês que dormem muitas horas seguidas
podem ter um desenvolvimento mais lento.
Aí
você se agarra a essas coisas e começa a achar que seu filho vai ser
superdotado, só pode. O livro fala em duas, três acordadas para bebês de
quatro, cinco meses. Há noites em que isso acontece, assim como há noites (a
maioria delas) em que Antônio acorda de oito a dez vezes num período de oito a
nove horas.
É
enlouquecedor.
Para
mim, que atualmente desconheço o significado de uma noite de seis horas
seguidas (ao menos isso), o sono de Antônio se tornou meu Santo Graal.
E
como fazer para aqueles que dormem entenderem isso?
Infelizmente
temos a péssima tendência a não sentir empatia por aquilo que não vivemos.
Claro, não vamos generalizar. Eu recebo os “tadinha”, “nossa, você precisa
dormir” e até “como posso te ajudar?”, das pessoas mais próximas. Mas no fundo,
no fundo, a Terra continua girando e meu problema é apenas o meu problema. No dia seguinte ninguém
lembra que eu não dormi e eu tenho que ser simpática, querer receber visitas,
ir em eventos e viver uma vida normal. No entanto, a cada mês que passa, me
sinto mais próxima da loucura.
Nesses
cinco meses já perdi a conta de tudo que eu fiz para o Antônio dormir direito.
E
aí o mundo cai de braçada na sua desgraça, porque opinião é uma coisa que todos
têm e a-do-ram dar, não é? Uns dizem, outros insinuam, outros escondem no olhar
achando que eu não percebo e há algumas poucas almas que realmente entendem.
“Meu
Deus, esse menino mama demais, você precisa espaçar as mamadas!”
“Dá
bico”
“Não
dê bico de jeito nenhum, senão ele vai parar de mamar no peito!”
“Faça
cama compartilhada”
“Tira
esse menino da sua cama, eu li uma reportagem, você pode matá-lo sufocado”
“Leva
pro quarto e deixa chorar”
“Não
deixa chorar, é maldade”
“Nina
até ele estar totalmente adormecido”
“Não
nina de jeito nenhum, senão você vai virar escrava dele”
“Não
dê o peito, ele não pode dormir no peito”
“Deixa
dormir no peito, põe num colchão no chão e saia devagar”.
“Ele
dormiu muito à tarde, está descansado”
“Ele
precisa dormir muito à tarde, senão não dormirá bem à noite”
“Deixa
ele ficar cansado de dia”
“Será
que seu leite é suficiente?”
“Será
que seu bebê não tem um problema mais sério?”
Eu
já ouvi todas essas coisas, algumas mais de uma vez, de pessoas muito próximas
a pessoas que eu nunca vi pessoalmente.
As
pessoas realmente acreditam saber o segredo do meu Santo Graal.
Se
tem uma coisa que eu descobri nesses cinco meses é que não existe manual, não
há bebê igual, uma coisa que funciona numa casa não vai funcionar na outra.
Antônio
já dormiu ao meu lado, já dormiu no berço portátil, já tirou várias sonecas no
colo das avós, há dois meses foi para o seu quarto e dorme em seu berço. Há
dois meses eu comecei uma rotina que já passou por diversas variáveis.
Já
comecei às 19:00, às 20:00, às 21:00. Já deu certo por um, dois dias.
No
início era assim:
1. Shantala
(descobri que Antônio entende a massagem como um código para ficar
absolutamente elétrico) no escuro, coloquei música clássica, a cantiga alemã
que meu pai cantava para mim, canções de ninar brasileiras, MPB, som branco
(barulho de chuveiro, chuva, floresta, etc);
2. Banho
também com a luz bem baixa, falando baixo, dizendo para ele cada passo do que
iríamos fazer e que ele iria dormir;
3. Amamentação
(muitas vezes dormia aí para acordar assim que eu o encostava no berço);
4. Ninar
cantando, fazendo “shhh”, tocando música, olhando pela janela, dançando.
Na
primeira semana houve um dia em que ele dormiu quatro horas.
Comemorei.
Muito,
muito tola.
Já
entrei para um grupo de sono e saí, porque não estava aguentando mais todos os
bebês evoluindo com a rotina, menos o meu.
Enfim,
comecei uma rotina nova, que às vezes dá certo, às vezes não:
1.Entre
19:00 e 19:30 lemos uma historinha com Antônio balançando as perninhas ávido para
morder o livro;
2. Ouvimos
e cantamos Galinha Pintadinha;
3. Dou
um pouquinho de chá de camomila na colher;
4. Assim
que ele começa a bocejar, dou o banho e coloco uma música tranquila, muitas das
vezes eu canto junto (aqui ele ainda acha que é hora de farra, chuta a água, ri
com a cara mais moleque do mundo, mas diariamente sai fungando meu peito e com
chorinho de sono);
5.Amamentação;
6.Berço.
Aqui mora o perigo. Essa rotina me foi ensinada por uma amiga muito querida,
também mãe de um Antônio (ao que parece, é mal do nome). A regra é: ninar
jamais. Colocar com ele ainda um pouco desperto.
Aprendi
que virá-lo de lado funciona. Que um bonequinho que eu comprei na gravidez
virou seu companheiro, Antônio o abraça e dorme sereno.
Mas...
cada dia é um dia.
O
regime é militar. Ele precisa dormir ao menos três sonecas ao longo do dia: uma
em torno de 10, 10:30, outra entre 12:30, 13:00 e por volta de 16:00, 17:00.
Quando isso não ocorre, em 90% das vezes a noite é um inferno.
Eu
faço esta rotina noturna há duas semanas. E ele segue acordando de duas em duas
horas nas primeiras duas, três acordadas... no restante, de uma em uma hora. Às
vezes eu consigo ninar sem tirá-lo do berço, dando o bico (sim, cedi ao bico,
joguem suas pedras). Às vezes ele dorme assim e cinco minutos depois abre o
berreiro. Às vezes abre o berreiro de cara. Às vezes dorme tranquilo por três
horas.
Aí
vem outra questão: se eu dou o peito, ele dorme rápido. Mas se eu dou o peito
ele não aprende a dormir sozinho de novo. Se eu dou o peito, eu levo cerca de
15 a 20 minutos entre a hora que ele acorda e eu deitar de novo. Se eu não dou
o peito ele chora até ficar elétrico de novo e quando eu volto pra cama eu
estou elétrica.
As
pessoas repetem com frequência: durma quando ele dormir.
Me
desculpem, mas isso só funcionaria com ele recém-nascido, porque eu estava
sempre pregada (e nessa época sempre tinha gente aqui, ou seja, não o fiz).
Agora eu tenho momentos mais desperta e não tem jeito, por mais exausta que eu
esteja, não tenho um botão de desligar em que basta deitar na cama que eu
durmo. As pessoas de fora realmente julgam isso possível.
Há
outro fator interessante a se mencionar. Me tornei psicopata com barulho. Odeio
motos, carros com som alto, ônibus, pessoas chapadas na rua, dias de jogo de
futebol (mesmo do Galo, quem diria). Eu achava minha rua tranquila até Antônio
nascer. Depois de sua chegada eu percebi que os tacos de madeira do meu
apartamento rangem demais. Que a descarga do banheiro é muito alta. Que nós
respiramos fazendo um barulho absurdo.
Na
época em que ele ficou no meu quarto eu e seu pai ficamos escravos. Às vezes o
jeito de deitar na cama o acordava. Como colocávamos o controle remoto no móvel
da TV, a descarga do banheiro, o vibrador do celular, ou, e eu juro que Antônio
veio da fábrica com um radar, o simples fato de eu deitar na horizontal o
acorda.
Além
do sono absurdo, o maior problema de ter um bebê com dificuldade de emplacar no
sono é eu ter me tornado uma pessoa que pensa nisso o tempo inteiro. Sair
atrapalha. Visita atrapalha. Eventos atrapalham. Dá vontade de ir pra um
quartel militar e eu acredito que apenas as mães de filhos pequenos me
entenderão, porque as que não têm não sabem e as mães de filhos maiores
esqueceram como é.
Há
também as palavras de alento que saem pela culatra. Quando Antônio acorda cinco
vezes numa noite a impressão que se tem é que eu dormi bem, “muito”. Pois bem.
Eis uma breve descrição de minhas noites mais críticas atualmente:
Vai
dando sete da noite eu já fico alerta. É necessário que Antônio desacelere. Não
dá pra fazer muita estripulia, senão ele fica excitado de um jeito quase
irreversível. Se eu estiver na rua, fico estressada. Se tiver alguém aqui, fico
estressada. Se alguém ameaçar pular ou cantar na frente dele, tenho vontade de
fugir pra um hotel e só voltar no dia seguinte.
Vamos
para a sala, leio uma historinha, coloco Galinha Pintadinha e dou o chá. Ele
arrota, vamos ajeitando suas coisas para dormir. Levo para o banheiro e coloco
uma música leve (ultimamente tenho ouvido Adriana Partimpim, é bonitinho).
Quando eu o coloco no trocador da banheira ele já começa a sacudir as pernas
como se aguardasse um trio elétrico passar.
Dou
o banho sem reagir às suas bagunças, falando mais baixo, cantando a música para
ele. Seco, coloco a fralda, troco a roupa e ele já começa a reclamar. Quando eu
o pego no colo ele começa a fungar em meu peito (adoro isso) e ficar com um
chorinho manso. Vamos para o seu quarto.
Penteio
seus cabelos já no escuro e vamos para a poltrona de amamentação. Há dias em
que Antônio mama com vigor, outros em que mama só um pouquinho. Já achei que
isso faz diferença, mas por enquanto nada me provou o contrário. Há dias em que
ele já dorme aí, em outros vamos para o berço e ele adormece relativamente
rápido e há aqueles em que me dá um verdadeiro baile durante uma hora, até duas.
Antônio
dorme.
Como
passei o dia com ele, nessa hora eu já estou com fome. Seu pai chega do
trabalho e eu peço que vigie a babá eletrônica para eu tomar banho e comer. Há
dias em que funciona, em outros ele acorda quatro, cinco vezes chorando assim
que eu seguro o garfo. Perdi a conta de quanta comida fria eu comi nesses cinco
meses. Há dias em que seu pai consegue fazê-lo dormir. Em outros ele chora como
se eu tivesse morrido e eu tenho que acudir. Não sei se consigo fazer o método
do choro assistido.
Há
cerca de um mês combinei com seu pai que nas primeiras acordadas, quando ele
ainda não tiver ido dormir, ele tentará niná-lo. No entanto, poucas vezes dá
certo. Já conseguimos, é fato, mas na maioria das vezes eu não consigo voltar a
dormir enquanto não vejo que Antônio dormiu.
Tomei
banho, comi, vou deitar. Tem acontecido de eu ficar elétrica e custar a dormir.
Quando durmo, meia hora depois ele acorda. Tem acontecido também de eu ficar
psicótica com a babá eletrônica: só consigo dormir virada para ela, às vezes
cismo que algo está obstruindo sua respiração ou simplesmente acontece de eu
olhar e ele acordar.
(Versão noite boa) Antônio dorme às
20:30. Eu como, tomo banho e converso com seu pai sobre o dia. Deito às 23:00.
Às 23:15 Antônio acorda. Seu pai vai lá, eu ouço pela babá eletrônica. Antônio
torna a dormir, são 23:25. 23:30 ele acorda em prantos, tenho que dar o peito. Ele
dorme, são 23:42. Eu deito novamente. Resolvo olhar internet no celular, custo
a dormir. São meia-noite e uns quebrados, eu durmo. 01:40 Antônio acorda. Seu
pai vai lá, ele esgoela, é hora de mamar. Antônio mama e adormece relativamente
rápido. Volto para a cama, são 2 da matina, eu já babando de sono. Não sei
quanto tempo levo para dormir, mas durmo. 4:15 Antônio chora. Seu pai dorme,
tem de trabalhar no dia seguinte. Arrastando, eu vou ao seu quarto, tento dar o
bico e fazê-lo dormir sem peito. Não consigo, pois mal lembro meu nome e não
tenho energia pra passar por toda a catarse. Dou o peito, Antônio dorme relativamente
rápido, são 4:30. Volto para a cama, fico olhando a babá eletrônica até dormir.
6:50, horário precioso... se eu não ponho no peito rápido ele acorda para o
dia. Ponho no peito e rezo, quase dormindo em cima dele. Ele mama avidamente
por dez minutos e dorme, vitória! Deito de novo às 7:00, já quase desperta, mas
consigo cochilar um pouco. Uma hora depois ele acorda novamente e quando eu
chego no berço recebo aquele sorriso delicioso que quase me faz esquecer como
eu queria dormir 18 horas seguidas.
(Versão noite punk) Começo a rotina como
todos os dias, Às vezes saímos de dia, Às vezes não. Às vezes ele dormiu as
três sonecas de dia, na maioria delas pulou alguma. A saga começa às 20:10. Ele
dorme 50 minutos. Vou lá, dou o bico, cantarolo uma melodia, viro ele de lado,
dou o boneco, ele dorme. 21:03 está Antônio chorando como se algo terrível tivesse
acontecido. Seu pai vai, tenta ninar, chega a pegá-lo no colo. Eu chego, ele
olha pra mim com cara de “acho que ele está com fome” e vamos para a almofada
de amamentação. Antônio mama pouquíssimo e dorme.22:00 tudo começa novamente. Dou
o bico, mudo de posição, ele dorme. 23:10 seu mundo cai. Tento por o bico, ele
cospe. Tento ninar, ele chora magoadíssimo, tento mudar de posição, ele vira o
corpinho e olha pra mim desolado. Tento lutar, Antônio vence. Vamos pra
poltrona. Dorme. Consigo dormir 23:45. 00:18 Antônio chora. Seu pai vai,
consegue fazê-lo dormir. Eu, no quarto, vidrada na babá eletrônica. 00:27 uma
nova hecatombe. Peito, já estou exausta. Dorme até 2:30. Chora, esgoela, peito.
Dorme. 4:35 chora de novo, mama. 4:49. Dou o bico, mudo de posição, dorme. 5:03
dá escândalo. Dou o bico, ele se revolta contra mim. 5:05 ele dorme. Deito quase
desmaiando na cama. 6:10 Antônio chora. Vencida, dou o peito, rezando para ele
dormir ao menos mais uma horinha pra eu conseguir dialogar durante o dia. Ele chora,
olha os bichinhos no quarto, ri pra mim, mama e solta o peito. Eu resolvo lutar
com todas as minhas forças (leia-se 7% da minha energia vital) e consigo, uma
hora depois. São 7:10, Antônio finalmente cede. Eu deito, cabeça elétrica. Olho
o celular, respondo mensagens das mães amigas. Com sono de novo, durmo lá pra
7:30. 7:57 Antônio acorda, joga o bonequinho pra cima, olha o berço, reconhece
o território e me chama. Vou lá e o dia começa.
Agora
multipliquem isso aí por cinco meses.
Algumas
coisas me preocupam: saúde mental, física e voltar a trabalhar. Tudo interligado.
Não
sei se me fiz entender, mas creio que com essa narrativa aqueles que me
conhecem poderão compreender melhor quando fico de mal humor, silenciosa,
quando não quero receber visitas, sair de casa, sorrir. Espero que os leitores
que ou me conheçam ou conheçam outra família com bebês, pensem 1.987 vezes
antes de fazer um comentário acerca da situação da mãe de um bebê que não dorme
bem. Por melhor que seja a intenção, na enorme maioria das vezes o comentário
só servirá para irritar, frustrar, magoar e incitar o ódio dessa mãe às raias
da loucura.