segunda-feira, 13 de julho de 2015

Antônio e ele

Olhando em retrospectiva, é possível fazer uma leitura bastante idílica e intensa de nosso encontro (“intensidade”...), no entanto, eu e você sabemos que apesar de termos experimentado uma troca (quase) imediata de olhares e depois disso nunca mais termos conseguido nos separar por completo, nossa história já passou por capítulos difíceis, duros e houve um tempo em que ninguém sofria mais do que a gente.

O tempo foi passando e comemoraremos no ano que vem 10 anos de uma caminhada deliciosa, de descobertas, desafios e muito aprendizado. Você me tornou uma mulher melhor, uma profissional melhor e certamente aprimorou o nível de groselhas que se constitui das horas mais deliciosas que acumulamos juntos.

De repente, decidimos nos multiplicar. Partiu de você, aliás. Eu pensando em doutorado-sanduíche e você insistiu para começarmos as tentativas, já ciente de que no dia em que parássemos com o anticoncepcional, eu iria querer engravidar imediatamente.

E assim foi, como já narrei por aqui.

Aos poucos comecei a sentir nosso toquinho. Você não sentia e uma distância invisível parecia separá-lo da experiência. Durou pouco e nosso menino resolveu brincar de ET para você poder tocá-lo, como se dissesse “vem conosco, papai”.

O tempo foi passando, comemoramos semanalmente cada “nivesálio” com a espera de “pesentes”, até que no dia 7 de julho desse 2015, nosso boneco resolveu chegar.

Apesar de eu ter me transformado em um tigre psicopata nos (longos) momentos finais, o que ficará para o resto da vida é seu corpo encostado no meu me dando força em silêncio quando eu suplicava para mudar os rumos de meus planos tão cuidadosamente refletidos. Por vezes eu rejeitei seu toque, porque, à flor da pele, só cabiam eu e Antônio para que pudéssemos protagonizar nosso encontro a três. Só ali, naqueles eternos instantes finais.

Ele coroou e você não conseguia ver, mas eu sabia que não se importava, pois entendia que seu lugar era colado em mim, para que o recebêssemos juntos, como de fato foi. Eu fui sentindo cada centímetro de sua linda cabecinha, avançando arduamente em intervalos de cinco minutos.

5 minutos. Mais um pouco. 5 minutos. Não olhe para o relógio, não mexa, só espere a contração e ouça a Míriam: “vem, Antônio”. 5 minutos. 5 minutos. 5 minutos. Não faço ideia de quanto tempo durou.

E ele veio. Relatarei em breve, quando julgar ter processado um tantinho mais dessa experiência transcendental de pari-lo.

Antônio veio para os meus braços com seu chorinho fino, abriu o olhão desconfiado e olhou para nós dois. Nunca vou me esquecer da textura de seu corpinho quente. E de olhar para trás e ver você, seu pai, chorando profundamente.

Ele tem a sua bochecha, meu amor. Aquela curvinha do ultrassom estava ali, à espreita.

Nada me faz mais feliz do que ver você em nosso Antônio. Você, o amor que eu escolhi pra vida inteira, representado no rosto do ser que, desde seus tempos de papoulinha, se tornara o amor maior.

Antônio e seu pai é uma história que se inicia e eu estou amando presenciar. O pai babão que só tem braveza por fora, o coração gelado que se derreteu e que soube como carregá-lo instantaneamente.

Vai ser delicioso viver a história de Antônio junto de seu pai.

Faz sentido ser três.

Amo vocês dois. Profundamente.