Olhando
em retrospectiva, é possível fazer uma leitura bastante idílica e intensa de
nosso encontro (“intensidade”...), no entanto, eu e você sabemos que apesar de
termos experimentado uma troca (quase) imediata de olhares e depois disso nunca
mais termos conseguido nos separar por completo, nossa história já passou por
capítulos difíceis, duros e houve um tempo em que ninguém sofria mais do que a
gente.
O
tempo foi passando e comemoraremos no ano que vem 10 anos de uma caminhada
deliciosa, de descobertas, desafios e muito aprendizado. Você me tornou uma
mulher melhor, uma profissional melhor e certamente aprimorou o nível de
groselhas que se constitui das horas mais deliciosas que acumulamos juntos.
De
repente, decidimos nos multiplicar. Partiu de você, aliás. Eu pensando em
doutorado-sanduíche e você insistiu para começarmos as tentativas, já ciente de
que no dia em que parássemos com o anticoncepcional, eu iria querer engravidar
imediatamente.
E
assim foi, como já narrei por aqui.
Aos
poucos comecei a sentir nosso toquinho. Você não sentia e uma distância
invisível parecia separá-lo da experiência. Durou pouco e nosso menino resolveu
brincar de ET para você poder tocá-lo, como se dissesse “vem conosco, papai”.
O
tempo foi passando, comemoramos semanalmente cada “nivesálio” com a espera de “pesentes”,
até que no dia 7 de julho desse 2015, nosso boneco resolveu chegar.
Apesar
de eu ter me transformado em um tigre psicopata nos (longos) momentos finais, o
que ficará para o resto da vida é seu corpo encostado no meu me dando força em
silêncio quando eu suplicava para mudar os rumos de meus planos tão
cuidadosamente refletidos. Por vezes eu rejeitei seu toque, porque, à flor da
pele, só cabiam eu e Antônio para que pudéssemos protagonizar nosso encontro a
três. Só ali, naqueles eternos instantes finais.
Ele
coroou e você não conseguia ver, mas eu sabia que não se importava, pois
entendia que seu lugar era colado em mim, para que o recebêssemos juntos, como
de fato foi. Eu fui sentindo cada centímetro de sua linda cabecinha, avançando
arduamente em intervalos de cinco minutos.
5
minutos. Mais um pouco. 5 minutos. Não olhe para o relógio, não mexa, só espere
a contração e ouça a Míriam: “vem, Antônio”. 5 minutos. 5 minutos. 5 minutos. Não
faço ideia de quanto tempo durou.
E
ele veio. Relatarei em breve, quando julgar ter processado um tantinho mais
dessa experiência transcendental de pari-lo.
Antônio
veio para os meus braços com seu chorinho fino, abriu o olhão desconfiado e
olhou para nós dois. Nunca vou me esquecer da textura de seu corpinho quente. E
de olhar para trás e ver você, seu pai, chorando profundamente.
Ele
tem a sua bochecha, meu amor. Aquela curvinha do ultrassom estava ali, à
espreita.
Nada
me faz mais feliz do que ver você em nosso Antônio. Você, o amor que eu escolhi
pra vida inteira, representado no rosto do ser que, desde seus tempos de
papoulinha, se tornara o amor maior.
Antônio
e seu pai é uma história que se inicia e eu estou amando presenciar. O pai
babão que só tem braveza por fora, o coração gelado que se derreteu e que soube
como carregá-lo instantaneamente.
Vai
ser delicioso viver a história de Antônio junto de seu pai.
Faz
sentido ser três.
Amo vocês dois. Profundamente.